Roberto Amaral: “É preciso respeitar essas peculiaridades sem permitir que elas sirvam de instrumento de destruição da saga revolucionária”


Qual o papel do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no cenário político nacional e quais os desafios para o futuro. Em entrevista ao Portal do PSB, o vice-presidente da sigla, Roberto Amaral, comenta essas questões e avalia o desenvolvimento do país e as ações do governo Lula.

Confira a entrevista:

O que é o Partido Socialista Brasileiro (PSB) nos dias de hoje?

Um partido de centro-esquerda que transita do centro para a esquerda onde, espero, encontrará seu espaço ideológico e objetivo. A este projeto o PSB tem direito; adquirido na luta política recente, mas tem. Acima de tudo, o dever de construí-lo, como a última alternativa do socialismo democrático em nosso país. Essa decisão, que só poderá ser alcançada se for tomada pelas bases, de baixo para cima – inclusive democratizando a vida partidária –, é urgente e ingente, em face da crise do pensamento e da ação de esquerda em nosso país, com o despedaçamento da vida sindical, a burocratização do movimento estudantil e a manipulação do movimento social por agentes a ele estranhos. A necessidade, correta, de eleger o presidente Lula e sustentar seu governo, ajudou o PT a cumprir seu destino como o grande partido social democrata brasileiro, o único partido realmente social democrata, por ser o único com incursão no movimento sindical. Que papel o PSB pode e precisa desempenhar? Acompanhar, como satélite, o PT – como o faz o PPS relativamente ao DEM –, ou atender ao seu compromisso histórico – de seus fundadores e refundadores e seus militantes – como o grande partido da esquerda socialista? Em 1985, que lutava pela reorganização do PSB – e era combatido pelo PCB e o PMDB de então – eu dizia que o Brasil tem o direito de ter um partido socialista. Não podíamos negar isso à história. Este desafio se recoloca como atual hoje, passados 23 anos.

O PSB, hoje, base do governo Lula, reconhece erros e acertos nesta gestão?

Sim, e reconhece mais acertos do que erros, pois não perdemos de vista suas limitações determinadas pelo estágio (ou atraso) da luta política brasileira. O governo Lula, como todo e qualquer governo, é fruto da correlação de forças, a que se reduz a política, em quaisquer de seus níveis. Louvamos nele a retomada do crescimento econômico, do emprego e dos ensaios de distribuição de renda, mas lamentamos que não tenha utilizado o apoio das massas para além da sustentação governamental, ou seja, para o aprofundamento das reformas. Mas essa crítica se aplica igualmente ao PSB, ao PCdoB, ao PDT e ao PT. Que fizeram nossos partidos para promover esse aprofundamento, ou mesmo com vistas a uma guinada, leve que fosse, na direção de um programa mais à esquerda ou menos conservador? Perdemos a hegemonia para o PMDB, sem sequer havermos com ele disputado.

O enfrentamento correto e a superação concreta das dificuldades sócio-econômicas, repassadas à população mais carente, que o governo federal tem encontrado, se definem, para o PSB, como passos em direção ao socialismo?

Não! Longe, estamos muito longe disso. Não há essa cogitação, nem podemos cobrá-la. O sucesso do governo Lula está em construir as bases do desenvolvimento capitalista do país apontando para uma potência econômica no horizonte de dez anos.

Qual é a estratégia nacional para o futuro imediato e posterior do PSB, levando-se em conta que cada estado, município, cidade, bairro ou comunidade tem sua regionalidade característica com problemas peculiares?

É preciso respeitar essas peculiaridades sem permitir que elas sirvam de instrumento de destruição da saga revolucionária. O projeto é nacional – o socialismo. A tática pode ser local, mas a tática sempre deve estar a serviço da estratégia.

De que forma as alianças regionais podem se dar para a construção de candidaturas viáveis que levem à maior inserção do PSB no cenário político de nosso país?

A Executiva Nacional já definiu, para as eleições de 2008, nossa tática: primeiro, repetir no maior número possível a conformação do bloco de esquerda; segundo, não sendo possível, coligar-se com partidos do bloco; terceiro, coligar-se com partidos de esquerda do bloco de sustentação do governo.

Portal PSB – Entrevistas - 15/05/2008